Chegar a Barcelona e ter a sensação de ter partido há uma semana. Lembrar o cheiro, saber as ruas ao centímetro, prever a cara de quem me vai servir uma clara ao balcão. Conhecer as rotinas, o ritmo da cidade. Os avós com os seus carrinhos de mão ao início do dia. Os bocadillos de jamon nas mesas às 10h da manhã. Os almoços tardios num banco de jardim (melhor do que qualquer restaurante de 5 estrelas). A mistura de culturas (imaginar como será Barcelona para um paquistanês sem permisso de residência ou para uma venezuelana que emigrou sem os seus filhos).
Sentir um sabor melancólico, por visitar o que era o meu dia a dia e que eu optei por trocar, às vezes não sei bem porquê... Outras vezes sei. E também as sinto agora. Mesmo tendo sido apenas uma semana. E não as partilho sequer, porque são minhas e porque só são verdades dentro de mim. Só sabe porque se partiu quem o sentiu dentro de si. Mal é falado já não é o mesmo sentimento.
Uma semana na minha vida há um ano e meio atrás. Quase um regresso ao passado.
E só vivenciando isso é que percebo que não. E isso já é outra história. E a essa também não voltaria. Porque também o senti dentro de mim. Porque não é possível voltar atrás. Porque a estrada não pára. Porque já não sou a mesma.
Mas sabe muito bem... voltar, absorver, dar e receber o melhor. Desfrutar, questionar porque há coisas que perdemos, que esquecemos perdidas pela rua, hábitos que prezamos mas que deixamos de ter, rotinas que mudam porque mudam os contextos. Como se nos tratássemos apenas de uma massa que se molda conforme a forma.
Numa semana, perceber porque quis e porque não quis.
Perceber onde guardar a melancolia que por vezes paira.
Arriscar a fórmula para retirar o melhor da realidade que temos.

Sempre que volto de Barcelona sinto-me inspirada.
E no entanto, quando lá vivi, senti-me a apagar.
Será nunca estagnar o segredo?
Cheguei com uma vontade incrível de viajar...