Queres saber tudo sobre o amor e engatas na internet. Confundes orgasmos com êstase romântico. Sabes (claro que sabes) que uma promessa num quarto com pouca luz ou uma provocação escrita num guardanapo de bar não chegam para que sejas feliz para sempre. Mesmo assim, tens a certeza que amarás como nos filmes, nos livros, nas séries de televisão. Vais casar-te mais do que uma vez, ter filhos de pessoas diferentes, mudarás de profissão, de cidade, de casa. Tomarás comprimidos para a ansiedade, para a apatia, para o tesão. Queres mais, porque as pessoas de disponibilidade temporária são pensos rápidos para a solidão quando, na verdade, precisas de um transplante. Terás muitos objectos bonitos, roupa que durará apenas uma estação, fotografias das viagens que te fizeram pensar que a tua vida é uma merda, que tens que queimar tudo o que foste e começar noutro sítio. Não és tão corajosa como julgas nem tão bela como na foto do teu perfil. Desejas ser livre, auto-suficiente, perfeita. E o teu corpo insatisfeito quer sempre mais. Mas nunca alcançarás o pleno das tuas expectativas. Habitua-te. O fracasso faz parte da casa. Serás sempre inacabada. Não faz mal, a sério. Tal como não é grave que o computador demore mais tempo a ligar que o esperado, que haja quem não gosta de ti, que um dia chegues a casa e o sofá e a televisão não sejam colo suficiente. Sabes, se viveres até aos 80 anos, o teu coração baterá três mil milhões de vezes. Espero, como tu, que algumas delas sejam mesmo por amor"
Hugo Gonçalves, jornal i